Em algum momento da escola você deve ter passado pela História do
Egito, Grécia, Itália, Portugal, França, Inglaterra, Estados Unidos,
Argentina, Paraguai, Rússia, China… Rodamos o mundo estudando a História
alheia. E lá fora, será que alguém estuda a História do Brasil?
Sim, há quem se interesse pelo tema em diversos continentes. Na
edição impressa da SUPER de novembro, a da batata frita, você confere
quais países se interessam pela nossa História e quais conteúdos cada
nação estuda. Aqui, você confere um extra do que está na revista. Isso
porque uma das entrevistadas, a professora Daniela Neves, que ensina
História do Brasil na Universidade de Budapeste, na Hungria, teve
problemas de saúde e só conseguiu ceder uma entrevista após a revista
estar fechada. Como a revista já estava pronta e a professora Daniela
contou curiosidades bem legais sobre seu trabalho na Hungria, decidimos
publicar a entrevista aqui, no História sem fim.
Muitos países ensinam História do Brasil com a animação “Você já foi à Bahia”, de Zé carioca.
Professora Daniela, como é seu trabalho na Universidade de Budapeste?
Por ser a única professora brasileira na universidade húngara, sou
responsável pelo ensino de disciplinas para cursos de graduação,
especialização e mestrado. Também faço conferências para os alunos de
doutorado. Ensino Língua Portuguesa, Português no Brasil, Literatura
Brasileira, Cinema Brasileiro, Teatro no Brasil, Cultura e Civilização
no Brasil, História Política brasileira, História da Arte brasileira,
História da Música brasileira e outros tópicos em Cultura, Literatura e
História.
E os húngaros se interessam pela nossa cultura?
Sim, há um surpreendente interesse dos húngaros pelo Brasil e pela
língua portuguesa. Há relativamente poucos brasileiros morando na
Hungria, mas atividades como a capoeira e o samba são muito conhecidas, e
bastante divulgadas por grupos de brasileiros já estabelecidos em
Budapeste.
Como é ensinar nossa História em outro país?
É muito enriquecedor e instigante mediar distintas culturas e os
acontecimentos históricos. É gratificante perceber que os jovens
húngaros apreciam e tomam nota de tudo aquilo que lhes é apresentado
sobre a História do Brasil. Tenho alunos que se debruçam em romances
históricos contemporâneos, como “1808” e “1822”, de Laurentino Gomes,
com extrema paixão pelos relatos e pela formação da civilização
brasileira.
E por quais assuntos de nossa História eles se interessam?
O “Ciclo do Ouro”, pela riqueza estética e artística produzida no
período, que marca a arquitetura das cidades históricas brasileiras. Há
um interesse muito grande pela história contemporânea, as mudanças e os
aspectos econômicos e políticos envolvidos na expansão brasileira e na
crescente visibilidade do país no exterior. Há também um forte interesse
pela história cultural e pela história literária brasileira, que
trouxeram nomes de peso também político, como o escritor Jorge Amado,
que é velho conhecido dos húngaros de vários gerações.
Já há algum resultado especial desse trabalho?
Quando vim para Budapeste, em 2011, trouxe para um professor o livro
“História Concisa do Brasil”, de Boris Fausto. No mesmo ano, esse livro
já estava traduzido para o húngaro e publicado em Budapeste. Também
tenho alunas que visitaram o Brasil e conheceram as cidades históricas
mineiras após as nossas aulas, e voltaram encantadas por terem visto de
perto as igrejas e os museus que marcaram o Brasil colonial, o Brasil
imperial, e que tantas riquezas deixaram esculpidas nos altares e
fachadas barrocas, que representam o Brasil contemporâneo.
A Dra. Daniela Neves é professora-visitante na Universidade de Budapeste – Eotvos Lorand University.
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